sábado, 5 de março de 2011

Respirou fundo e repetiu em voz alta: que-que eu tenho hoje?

Não, obrigado!

Vou dizer, daqui a pouco, algumas verdades, minhas verdades, que talvez levem o leitor, a leitora, ao terror. Podem até me chamar de louco.

Antes preciso dizer que tenho lembrado muito de um colega com quem trabalhei na Rádio Gaúcha na década de 1970. Esse amigo apostava em tudo o que podia, de loterias a jogo de palitinhos. Por mínima que fosse a chance de ganhar uns trocos, lá estava o meu amigo fazendo a sua aposta. Jogo do bicho era fichinha.

Um dia, esse amigo, acendendo um cigarro Continental, disse-me, sem deixar dúvidas: “Depois dos 50, Prates, não jogo mais nada, a pior coisa que pode acontecer a um velho é ganhar um bolada na loteria...”

Nunca esqueci. E agora me lembrei desse colega ao saber que um dos ganhadores da Mega-Sena tem 78 anos. E o pior de tudo é que o pobre homem tem 11 filhos. Quem tem muitos filhos, costumeiramente, tem alguns urubus entre eles. Urubus carniceiros, que não perdoam a carne do próprio pai ou da mãe.

Claro que tudo pode ter dado “errado” e esse homem já ter, bem antes, ganhado na loteria da vida. E isso significaria ter 11 filhos amorosos e desapegados, que visam apenas ao bem-estar do próprio pai. Quem tem 78 anos e ganha 72 milhões numa loteria, antes de um prêmio, ganhou uma encrenca. Quantas noras, quantos genros, quantos netos, quantos urubus? E não será que algum filho vai rufar as asas e alçar-se à condição de “administrador financeiro” do pai?

Pobre homem, em que encrenca se meteu. Pela idade, já não pode comer isso, faz mal; já não pode comer aquilo, faz mal, não pode comer mais nada... Aos 78 anos, se não tiver uma cabeça muito bem arejada, o que faz um sujeito com todo esse dinheiro e 11 filhos?

O que não me sai da cabeça são os 11 filhos. Sempre, entre os filhos, há os paspalhões, os que não agem, os que são passados para trás, e sempre há os espertos, os arrivistas, os urubus. Pobre pai!

Fechei os olhos e entrei no corpo desse homem, quase enlouqueci, eu já estava procurando por uma ponte bem alta... Cruzes, como é bom ser pobre quando se tem filhos, muitos filhos. É bom porque sempre haverá um ou dois que serão o nosso arrimo. Mas e quando se é multimilionário e se tem 11 filhos, o que é que se faz e como é que se divide o dinheiro sem ficar sem nada? Uma bolada dessas só vale a pena quando ainda se tem fôlego, espaço vital, tempo e um único e amoroso filho ou filha. Ou nem isso, solteirinho da silveira. Aos 78? Não, obrigado!

L.C.P.

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